Mount Eerie, Sauna

sauna

MOUNT EERIE/ SAUNA/ PHIL ELVERUM & SUN/ 2015

Sauna é o mais recente álbum da banda norte-americana Mount Eerie, projeto liderado por Phil Elverum, que já adquira reconhecimento no mundo musical com o seu grupo anterior, The Microphones.

A paixão pela Natureza de Phil, que por vezes aparenta ser quase obsessiva, é um fator-chave que transparece não só em muitos aspetos da sua vida, mas também na sua música. Afinal de contas, Phil chegou mesmo a viver sozinho numa pequena cabana no norte da Noruega e este álbum foi gravado inteiramente numa capela comprada por ele, convertida em estúdio.

O LP, de produção própria, abre com a title track, que avança lentamente, com drones progressivamente mais ruidosos e samples tiradas de – como seria de esperar – uma sauna e da crepitação de uma lareira, evocando a sensação etérea de isolamento. Esta mesma sensação é uma constante ao longo do álbum, reforçada pela poesia naturalista de Phil e pelo coro feminino, com versos como “I don’t think the world still exists/outside this room in the snow”, de “Sauna”, ou “From inside my bubble I think I see you while you smile and yawn”, de “Planet”.

No seu blogue, Phil refere-se à região do Noroeste Pacífico – onde se localiza a sua cidade-natal – como uma mistura entre o Japão e a Noruega, revelando o seu interesse tanto pelos vikings nativos do Norte da Europa, como pela literatura budista zen. Esta influência “náutica” encontra-se na canção “Books”, que termina com o cantor a gritar “I tear the North Sea!”, e na “This”, que se inicia com a repetição do verso “I tear in dreams across the North Sea”, como se fosse o próprio Phil a desbravar os mares do Norte, que lhe são tão queridos.

Este trabalho destaca-se essencialmente pela diversidade instrumental, graças à introdução do órgão e à variação constante entre os field recordings obscurecidos por drones e riffs de guitarra que fazem lembrar metal ou até shoegaze, algo visível na faixa “Spring” ou, mais notavelmente, em “Youth”. Já “(something)”, simplesmente instrumental, relembra as composições minimalistas de Steve Reich.

É assim que Sauna nos leva, durante perto de uma hora, numa viagem pelo íntimo de Phil e pela sua ligação profunda com o natural. Este ecleticismo de Elverum leva à criação de um álbum “estranho” que cria opiniões muito contrastantes, ora sendo considerado uma obra-prima, ora sendo visto como monótono. Mas “estranho” como um idoso de rabo-de-cavalo que nos leva para a Serra da Mata com o pretexto de saber de uns excelentes sítios para tirar fotografias, mas que depois nos pede para tirar a roupa toda e oferece mescalina. Nesse momento, podemos fugir e chamar a polícia, ou deixar-nos envolver, e mergulhar num mundo onde deixa de existir qualquer barreira entre Homem e Natureza. Tudo o que Sauna pede é um pouco de paciência, atenção e provavelmente várias audições, para se entender o seu génio por completo.

Faixas favoritas: Sauna, Pumpkin
Faixas menos favoritas: Turmoil, Boat
Rate: 8/10

por Francisco Marques

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